Por Elisa Ageev
O envelhecimento do cérebro é altamente heterogêneo e dentro desse leque temos os “SuperAgers”, indivíduos com mais 80 anos com memória tão nítida quanto pessoas saudáveis 20 a 30 anos mais jovens. Entretanto, não está claro os determinantes que influenciam as diferenças individuais no envelhecimento do cérebro.
Um grande projeto ligado ao Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) pretende investigar os determinantes do envelhecimento cerebral saudável, definido como ausência de doenças cerebrovasculares e neurodegenerativas.
Nesse estudo serão avaliadas as inter-relações das imagens cerebrais que serão captadas pela ressonância magnética (RM 3 e 7 Tesla), fatores de risco cardiovasculares, fatores protetores, sintomas psiquiátricos, desempenho cognitivo e funcional e suporte social ao longo da vida, de modo a avaliar o indivíduo em sua totalidade.
Nesse contexto, o ELSA-Brasil coorte prospectiva com mais de 14 anos de seguimento (linha de base 2008-2010) caracteriza-se como ideal para tal investigação por apresentar dados multidimensionais e de alta qualidade para investigação dos fatores associados ao envelhecimento cerebral, principalmente relacionados com neurocognição, saúde mental e cardiovascular.
O processo de envelhecimento cerebral que pode ser avaliado pela RM cerebral funcional e estrutural (volume, densidade cortical, substância branca e sistemas de neurotransmissores) têm um papel essencial na neurocognição podendo determinar sintomas de prejuízo cognitivo e psiquiátrico, com grande impacto na saúde global dos idosos. Além disso, um dos principais objetivos do ELSA-cérebro será determinar o perfil que caracteriza um indivíduo como um SuperAger, idoso dentro da média ou um Idoso frágil, considerando o desempenho cognitivo e funcional para a idade. Numa subamostra ainda serão avaliados fatores genéticos, principalmente relacionados aos SuperAgers.
Aprofundar o conhecimento sobre a estrutura e o desenvolvimento do cérebro no processo de envelhecimento traz a possibilidade de um envelhecimento cognitivo mais saudável.
O ELSA-cérebro, projeto temático sob financiamento Fapesp de 4,2 milhões (além das bolsas técnica, doutorado pós-doutorado e iniciação científica) com previsão para início em 2023, será conduzido pela pesquisadora responsável Alessandra Carvalho Goulart (Hospital Universitário da USP) em colaboração com as pesquisadoras principais Claudia Kimie Suemoto (Faculdade de Medicina da USP) e Claudia da Costa Leite (Faculdade de Medicina da USP), e outros pesquisadores com expertise nas áreas de neuropsiquiatria e cardiovascular. O projeto contará com a infraestrutura do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do HU-USP; Instituto de Radiologia (InRad) e Laboratório de Neurologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas (ICHC) da FMUSP e do laboratório de Genética Molecular da UNICAMP.
